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Grande ABC registra 185 casos de violência contra idosos por mês

Foram 927 denúncias de janeiro a maio de 2025; número caiu 7% em relação ao ano ado, mas cresceu 31% em comparação a 2023

Tatiane Pamboukian
14/06/2025 | 18:27
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FOTO: Claudinei Plaza/DGABC


Nos cinco primeiros meses de 2025 foram registradas 927 denúncias de violência contra idosos nas sete cidades do Grande ABC no Disque 100, canal de queixas do governo federal, ou seja, 185 casos por mês, em média. O número, apesar de ter caído cerca de 7% em comparação com o ano ado, quando ocorreram 997 denúncias de janeiro a maio, ainda é preocupante. Por isso, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu neste mês a conscientização para o tema com a campanha Junho Violeta. Especificamente neste domingo (15) é celebrado o Dia Mundial de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa. 

No total, foram 5.495 violações cometidas, de janeiro a maio deste ano, contra pessoas com 60 anos ou mais, pois cada denúncia pode conter mais de um tipo de violação. No mesmo período de 2024, as denúncias das cidades da região somaram 5.741 violações. A média de registros se manteve de um ano para outro, mas houve oscilações consideráveis em alguns municípios. Santo André apresentou crescimento de 29% no número de queixas, saindo de 238 denúncias em 2024, de janeiro a maio, para 306 em 2025, e São Caetano subiu de 55 para 65, aumento de 18%. São Bernardo teve queda de 28%, de 343 para 248, e Mauá de 38%, de 163 para 101. Em 2023, foram 707 denúncias nos cinco primeiros meses, crescimento, em dois anos, de 31%. 

A gerente de projetos da ONG Ficar de Bem, Sara Gonçalves, acredita que há subnotificação de casos. “Muitas vezes a violência acontece dentro da família e é mais difícil da pessoa buscar ajuda. Quem está próximo vê, mas prefere não se intrometer e não notifica. Por isso, a visibilidade de campanhas como o Junho Violeta faz com que tenhamos consciência da importância da notificação. Uma pessoa em uma situação dessa, muitas vezes, não consegue buscar ajuda sozinha, e até nem reconhece que ou por uma violência. Quem está próximo e denuncia ajuda essas pessoas. A notificação ainda é um processo, a invisibilidade do idoso é muito grande e temos muito que avançar em relação a essa população”, afirma. 

Sara conta que recebe casos que envolvem diferentes formas de violência contra a pessoa idosa. “Um dos mais graves foi o de uma idosa agredida fisicamente pelo próprio filho, situação que resultou, inclusive, na prisão do agressor. A violência psicológica também é recorrente, especialmente nos casos de demência ou Alzheimer, quando a dificuldade da família em lidar com as mudanças provocadas pelo envelhecimento se expressa em falas que deslegitimam a pessoa idosa”, exemplifica. 

A psiquiatra especialista em psicogeriatria Ana Paula Ruocco Nonato Matsumota explica que, além das doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e outras demências, os idosos estão entre os grupos mais vulneráveis por questões do próprio envelhecimento. “Ocorrem diversas alterações, como a diminuição da memória, atenção, raciocínio lógico e capacidade de julgamento. O lobo frontal, responsável por inibir impulsos e avaliar consequências, tende a sofrer redução de volume com a idade, prejudicando o senso crítico e facilitando manipulações. Há ainda, com o avanço da idade, uma menor agilidade física e resposta a ameaças, dificultando a defesa em situações de violência.” 

O advogado Francisco Gomes Junior ressalta que o idoso no Brasil é protegido por uma lei especial chamada Estatuto da Pessoa Idosa, criada em 2003. “O idoso pode sofrer diversos tipos de violência, como física, psicológica, sexual, patrimonial e até a institucional, que são maus-tratos ao idoso em locais como hospitais e asilos, além da negligência e abandono. O idoso pode ter a seu favor medidas protetivas. O juiz pode determinar o afastamento do agressor, o encaminhamento do idoso para um abrigo, tratamentos e providências urgentes”, diz. 

As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, de forma anônima, ou pelo 190 da Polícia Militar. 




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