Chamou atenção, nos primeiros dias de 2025, o discurso coeso dos sete prefeitos do Grande ABC em torno da regionalidade. Parecia que, enfim, os interesses locais ganhariam forma institucional no diálogo com Estado e União. Contudo, ados apenas seis meses de mandato, o que se vê é o esvaziamento de agendas comuns. A sessão ordinária de junho do Consórcio Intermunicipal sequer foi realizada até agora. A ausência de reuniões frequentes e de iniciativas coordenadas indica que o entusiasmo inicial perdeu fôlego. Isso levanta dúvidas sobre os reais compromissos dos gestores com o fortalecimento regional, no momento em que decisões externas seguem interferindo nas prioridades locais.
Não ajuda o fato de os líderes regionais dos três partidos que ensaiam fusão – Gilvan Junior (PSDB), Marcelo Lima (Podemos) e Alex Manente (Cidadania) – ainda não protagonizarem o debate nacional. Apesar de ocuparem cargos estratégicos, dialogam pouco entre si e não formam bloco com peso político suficiente para influenciar agendas suprarregionais. A falta de sintonia remete a ado recente, quando a disputa entre os então prefeitos de Santo André e São Bernardo, Paulo Serra e Orlando Morando, gerou imes que travaram o Consórcio por anos. Tais divisões deixaram a região enfraquecida diante de outras forças organizadas, que avançaram nas disputas por recursos e investimentos.
Enquanto as sete cidades discutem pouco entre si, avançam os interesses que se impõem de fora para dentro. Há grupos políticos e econômicos que lucram com a desarticulação local, pois a ausência de unidade impede que a região exerça sua capacidade de pressão. O esvaziamento do Consórcio, o silêncio entre as lideranças e a fragmentação partidária podem não ser apenas reflexos de escolhas locais, mas sintomas de pressões externas que operam no subsolo da política estadual. Pergunta-se: por que, quando há chance de avançar, as pontes voltam a ruir? Se o Grande ABC não reconhecer as forças ocultas que o mantêm disperso, continuará ausente dos espaços em que se definem as prioridades do País.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.