Em seu primeiro desafio como diretor de futebol, Carlos Pracidelli busca retomar os tempos de glória do São Caetano. Segundo o ex-goleiro, a missão não é fácil, e a diretoria do Azulão precisa pensar o a o. No entanto, ele não descarta sonhar com retorno do clube às competições de nível nacional, ou receber mais partidas da Libertadores no Estádio Anacleto Camla. Mesmo em um desafio ousado, Pracidelli tem experiência no futebol, com mais de duas décadas na comissão técnica de Felipão, e agens como treinador de goleiros da Seleção Brasileira nas Copas de 2002 e 2014.
RAIO X
Nome: Antônio Calor Pracidelli.
Aniversário: 3 de março.
Onde nasceu: São Paulo, Capital.
Onde mora: São Paulo, Capital.
Formação: istração.
Um lugar: Minha casa.
Alguém que ira: técnicos Felipão e Nelsinho Batista.
Um livro: A Arte da Guerra, por Sun Tzu.
Uma música: Mulher (sexo frágil), de Erasmo Carlos.
Um filme: Brasil 2002 – Os Bastidores do Penta, de Luis Ara.
Este é o seu primeiro desafio como diretor de futebol de um clube. Como aconteceram os primeiros contatos com o São Caetano?
Eu já conheço o (Jorge) Machado, presidente do clube, há muitos anos. Ele sempre foi a pessoa encarregada de definir os destinos do técnico Felipão (Luiz Felipe Scolari). E eu, como auxiliar por muitos anos, sempre estive junto. Então, já tenho essa amizade de longa data, esse trabalho profissional com o Jorge Machado. E depois de saber e entender o projeto que ele tem para o São Caetano, de imediato resolvi vir para cá. Quis estar junto em uma nova etapa, concordei com todas as ideias do nosso presidente, e agora quero fazer com que as coisas aconteçam. Fazer com que o São Caetano volte a ser a equipe que todos nós temos na memória: brigando para ser campeão brasileiro, como os vices-campeonatos em 2000 e 2001, disputando Libertadores (2001, 2002 e 2004), enfim, tudo aquilo que não só a torcida, mas toda a cidade de São Caetano merece.
Como foram as conversas com a diretoria sobre as metas do São Caetano para 2025, e também para os próximos anos?
Hoje, o nosso grande objetivo é nas divisões inferiores do Paulista. O trabalho está sendo feito, e não é um processo rápido, mas tenho certeza que dará certo no futuro. Claro, também pensamos em missões maiores. Teremos a Copa Paulista neste ano, quando buscaremos uma vaga nacional (Copa do Brasil ou Série D do Brasileiro), mas temos quatro divisões estaduais. Então, nosso foco tem que ser no dia de hoje, com os pés no chão. Mas o que nos impede de sonhar com um retorno à elite?
O clube tem prazo para voltar a figurar entre os principais times do Estado?
Tudo acontece naturalmente, não podemos apressar as coisas. Primeiro, temos que levar de volta o São Caetano ao local de destaque, onde sempre tem de estar. E eu tenho certeza que não só nós, mas como todo cidadão da cidade tem em mente isso, e sonha em voltar a acompanhar, no Anacleto Camla, os grandes jogos que aconteciam no ado, como receber times como Palmeiras, receber Boca Juniors, como já aconteceu em edições de Libertadores.
Neste ano, o São Caetano trabalha com uma equipe jovem, com uma idade média de 22 anos. Como é a relação do Azulão com o desenvolvimento dos jovens das categorias de base?
Hoje a base é uma realidade em todas as equipes. O jovem talento é observado de modo sério em todas as categorias. E nós, como clube formador de jogadores, temos por obrigação estar muito atento a toda essa gama de jogadores que nós temos. Assim como no departamento amador. Hoje, nosso artilheiro (atacante Fábio Azevedo, com 13 gols) saiu do futebol de várzea, então também é uma área que exige nossa atenção.
Durante muito tempo de sua carreira, você acompanhou o técnico Felipão, seja como treinador de goleiros ou auxiliar. Atualmente, vocês mantêm contato mesmo a distância?
Quase todo dia. Posso dizer que, hoje, o Felipão é torcedor de São Caetano, que comemora as vitórias e lamenta as derrotas. Sempre quando saímos dos jogos, ele me liga para discutir os resultados do time. Esse é o Felipão, que torce pelos amigos, que torce por mim, pelo Jorge Machado. Então, tenho certeza que hoje ele é mais um torcedor do São Caetano. E espero que ele esteja presente no estádio cada vez mais vezes, acompanhando nossa garotada.
Atualmente, o São Caetano ainda não abrange a categoria feminina, mas realiza algumas avaliações de jovens garotas. Existe alguma projeção para que o clube inicie trabalhos na categoria?
Eu não diria que já há uma data definida no clube, mas hoje o futebol feminino já é uma realidade. Hoje, o futebol feminino já conquistou um espaço no País que não pode ser ignorado. E em um futuro bem próximo as meninas também vão fazer uma história bonita no São Caetano. Encaramos como algo que pode gerar frutos para a instituição e para a cidade. Queremos que o Azulão volte ao cenário nacional, tanto no masculino quanto no feminino.
Juntamente com o Felipão, você fez parte da comissão técnica que ganhou o pentacampeonato mundial com a Seleção Brasileira (2002), como treinador de goleiros. Como era a disputa pela posição durante aquela campanha?
Foi muito fácil em termos de disputa. Porque naquela época nós tínhamos o Marcos, o Dida e o Rogério (Ceni). Três goleiros fantásticos. Então, independente de que assumisse a camisa titular da Seleção, ela seria muito bem representada. Pelo fato de nós já termos trabalhado com o Marcos no Palmeiras (entre 1997 e 2000), éramos sabedores de tudo aquilo que poderia nos dar. Então optamos por ele, e acho que fomos muito felizes, já que o Marcos teve uma participação fantástica na Copa do Mundo. Mas como eu falei, foi muito fácil. Eram três goleiros excepcionais, qualquer um que nós escolhêssemos estaria servindo muito bem o Brasil.
A Seleção Brasileira ou por dificuldades nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Mesmo assim, o clima na comissão era de confiança?
Realmente foi uma Eliminatória muito difícil. Se buscarmos na memória, o Brasil conseguiu a classificação apenas na última rodada. Mas tudo isso fez o Felipão fechar ainda mais o grupo e nos dar confiança. A competição também foi totalmente diferente: o primeiro Mundial disputado em dois países (Japão e Coreia do Sul), e isso influenciou todos os times. Mas é impossível descrever sentimento que fica quando o juiz apita o fim do jogo na decisão contra a Alemanha, qualquer dificuldade da campanha fica para trás.
Por outro lado, você também participou da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Quais foram os fatores que levaram à derrota por 7 a 1 contra a Alemanha?
Foi um sentimento bem distinto de 2002. Nós estávamos muito próximos, até hoje, foi a única vez em que chegamos à semifinal após o pentacampeonato. Dentro da nossa casa, era o sonho de todo o País vencer o hexa no Maracanã. Mas foi um desastre total. Até hoje não conseguimos explicar quando procuramos entender o que aconteceu. Eu diria que só o futebol pode proporcionar essas situações inexplicáveis. Tivemos a lesão do Neymar e a suspensão do Thiago Silva. Não é uma desculpa, mas estávamos sem nossos melhores jogadores no ataque e na defesa. Mas foi histórico, realmente não tem uma explicação.
Muitos jogadores e membros da comissão ficaram marcados pela goleada. Como foi se recuperar de 2014?
Foi difícil. Mas como o futebol não te dá tempo de lamentar, você sempre tenta fazer seu melhor, mas, às vezes, não é o suficiente. São coisas que vão ficar marcadas pelo resto da vida. Felizmente, eu e Felipão nos recuperarmos dessa situação. Ficamos três anos na China, e saímos com títulos nacionais. Em 2018, fomos campeões brasileiros com o Palmeiras, com uma enorme série invicta (23 jogos). Depois, chegamos à final da Libertadores da América com o Athletico-PR (2022). Essas situações fazem a vida continuar. O futebol te proporciona situações fantásticas e também episódios muito tristes, e você precisa saber lidar com isso. Precisamos de uma força emocional muito forte para ar essa carga negativa.
Em 2008, você acompanhou o Felipão na Inglaterra, no comando do Chelsea. Teve algum choque no trabalho ou na cultura do futebol na Europa?
A Premier League (Campeonato Inglês) era a competição mais importante do mundo, talvez ainda seja. A mentalidade dos jogadores é diferente em todo sentido. Lá, os jogadores são escolhidos a dedo. Tínhamos 24 atletas no elenco, e todos eram jogadores de seleção, do Brasil, da Espanha, da França. Então é a nata do futebol, e tudo muda desde a estrutura até o pensamento do jogo.
Na sua carreira como jogador, foi goleiro. Como enxerga a evolução da posição desde a sua saída dos gramados?
A mudança foi muito grande. Foi a posição que mais evoluiu no futebol. Primeiro, tivemos a regra de não poder reter a bola por mais de seis segundos, o que incentivou os goleiros a sair o mais rápido possível para o jogo. Hoje, os goleiros são obrigados a trabalhar com os pés, e isso atualmente já é treinado desde as categorias de base, para que as crianças já tenham experiência neste quesito e não em dificuldades quando forem profissionais. Para ser um grande goleiro hoje, não basta salvar debaixo das traves, mas também participar do jogo com os pés, na criação de jogadas.
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